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  • Foto do escritorMaria Eduarda

A casa e as casas de Djavan


Voz e violão, sua música no sumo portanto, Djavan canta frente à multidão de mais de 20 mil pessoas: “Eu fui batizado na capela do farol, Matriz de Santa Rita, Maceió”. Finca o pé na origem, aponta de onde veio — o que diz muito do passado, mas mais ainda das escolhas presentes e dos caminhos futuros. Casa, enfim. É esse o sentido que atravessa “D Ao Vivo Maceió”, álbum que documenta a turnê do disco “D” — a inicial do nome do artista, em mais um simbolismo que marca o valor essencial do início.


Eu tenho um amor profundo e uma gratidão imensa pela minha cidade, por Maceió”, derrama-se o compositor, em conversa em seu estúdio, no Rio. “Porque foi ali que eu me formei, foi ali que eu conheci tudo que eu precisava pra ter uma formação diversa como a minha intuição e o meu espírito gostariam. Ali eu conheci o jazz, o R&B, a música flamenca, a música nordestina, a música do Brasil... Me formatei ali

O sentido de “casa” que atravessa o show, porém, não é um só. Porque, para além de sua cidade natal, são muitas as casas, as origens, os lares que Djavan evoca no palco. A primeira, ainda antes de entrar em cena, fala de nossa essência como povo, pela voz de uma de suas representantes mais ilustres, Sonia Guajajara. Na abertura de “D: ao vivo Maceió”, ouve-se a líder e ministra dos Povos Indígenas lendo um texto de sua autoria, feito especialmente para a turnê: “Gritamos e ressoamos o ´reflorestarmentes´, para que de uma vez por todas o nosso direito à vida seja conquistado, com base na natureza e na ancestralidade”, diz um trecho.


É ainda sobre o eco dessas palavras que Djavan abre o show com “Curumim”. Lançada em 1989, é uma canção de amor feita da perspectiva de um menino indígena, um curumim que entrega tudo à menina amada (“O que era flor/ Eu já catei pra dar/ Até meus lápis de cor/ Eu já dei/ G.I. Joe, já dei/ O que se pensar/ Eu já dei/ Minhas conchas do mar”) e se angustia com o fato de não ser correspondido.



Escrevi ´Curumim´ depois de ter ficado muito impressionado quando vi na televisão uns meninos indígenas brincando com esses bonequinhos G.I. Joe (lançados no Brasil como Comandos em Ação)”, conta Djavan, que dedica o show aos indígenas e a todas as minorias do Brasil. “Você vê a infiltração de outras culturas ali, como isso pode matar a cultura indígena. E eu trago na letra, pra sedimentar essa questão, o nome de várias etnias. Nomes belíssimos, sonoros, musicais. Assim como a expressão ´G.I. Joe´ também me pareceu, ali, extremamente musical”.

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